segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Sem Lugar Para Adorar - Final

Em espírito e em verdade

Aqui se aplica a maior de todas as explanações a respeito de adoração. Aquela proveniente do próprio Cristo, ao falar com a mulher samaritana (Jo 4.19-24). Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar (vv. 19,20).

O pastor Ariovaldo Ramos, em uma de suas ministrações tendo este texto por base, trouxe à tona algo fundamental. O questionamento da mulher samaritana é um questionamento a respeito do cerimonial. Onde devemos adorar? No monte Gerizim, que era o lugar onde os samaritanos adoravam, ou em Jerusalém, local de adoração dos judeus?

Provavelmente, sendo Jesus judeu, a mulher esperava que ele apontasse o monte Sião em Jerusalém como sendo o lugar propício para adorar a Deus. Mas ele a surpreende: “Nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai... os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade” (vv. 21,24).

O que Jesus deixa claro é que Deus é espírito e está em todo lugar, portanto a adoração não pode ser confinada a um ato mecânico ou a um lugar específico. Deus espera adoradores que tenham consciência de sua presença ativa na realidade humana e o adorem com o ato de viver. Assim como ocorria no Éden, Jesus vem restabelecer a adoração espontânea, viva e relacional que o Pai deseja ter com seus filhos. Imagine se seu filho tivesse que marcar hora para falar com você. Imagine se ele tivesse que se dirigir a um local específico, vestindo as roupas certas, carregando os presentes certos para que você pudesse atendê-lo. Não podemos chamar isso de relacionamento e muito menos de paternidade. Adoração é relacionamento e todo relacionamento é dinâmico, vivo e pessoal.

Os adoradores que o Pai procura são aqueles que tenham consciência de que este mundo é o mundo de Deus. Que cada árvore, flor, nuvem ou pássaro exalta a grandeza da majestade do Criador e a vida humana é uma imensa fonte de adoração. Para o verdadeiro adorador, cada manhã é uma oportunidade. Cada pôr do sol é uma expressão da perfeição divina e a vida, por mais turbulenta que muitas vezes possa ser, deve ser permeada de adoração. Sob esse prisma, aquela adoração cerimonial do culto de domingo à noite tem mais significado. Não iniciamos um período de louvor e adoração que vem logo após a arrecadação de dízimos e ofertas e antecede a mensagem, mas sim continuamos a adoração que começamos no instante que recebemos a vida de Deus em nós. Cantar e trabalhar, levantar as mãos e conversar com o filho, tocar um instrumento e almoçar com a família. Tudo, absolutamente tudo, é um ato espiritual para o homem espiritual.

Deus espera pessoas que rompam com o vazio do ritual. Gente que, à semelhança de Davi, quebre o protocolo e dance de alegria perante o seu Deus. Gente que quebre vasos de alabastro, derrame ungüento precioso, chore, ria e se expresse na presença de Deus. Adorar em espírito é transcender. É entender que quando estamos em adoração nos reunimos ao cenário que descreve o autor de Hebreus:

Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel (Hb 12.22-24). Adorar em espírito não é limitar o emocional em prol do racional, nem exaltar o racional abolindo o emocional. O homem não é um ser fragmentado que adora Deus no cérebro ou no coração. Adorar é um ato espiritual que abrange o ser total em uma harmonia que soa como música aos ouvidos de Deus. Adorar em verdade é ser coerente. É fazer da vida um motivo de adoração. É expressar Deus nas relações pessoais, é viver de maneira que as pessoas sejam constrangidas pela nossa maneira de viver e agradar a Deus (1 Ts 4.1). Quando adoramos em verdade, Deus chama a atenção do mundo através de nós.

Vivemos um momento precioso no Brasil. Pessoas têm se derramado em adoração ao Senhor das mais diversas formas. Pessoas têm voltado o foco da adoração a quem é devido. Deus tem sido novamente o centro do culto. No entanto, até o diferente pode se tornar ritualístico se a consciência de Deus não for real e contínua. Se o “extravagante” virar modismo desacompanhado de testemunho pessoal, Deus virará suas costas. Se chorarmos na presença de Deus, mas não chorarmos diante do pecado, a adoração não será em espírito e muito menos em verdade. Se nossa adoração acontecer no templo e não no mundo, de nada valerá, pois o mundo é o santuário de Deus.

Quando aprendermos a viver essa adoração contínua e significativa, estaremos nos preparando para a maior reunião de adoradores da história, quando os justos e remidos continuarão a adoração que reiniciou quando o Cordeiro rasgou o véu de alto a baixo. Creio que isso é adoração. Creio que isso é vida eterna. Creio que isso é o céu.

Não vi templo algum na cidade, pois o Senhor Deus todo-poderoso e o Cordeiro são o seu templo (Ap 21.22).

Pr. Mateus Ferraz de Campos é líder do ministério Canto do Céu

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