segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Sem Lugar Para Adorar - Parte 2

As Origens da Adoração

Se olharmos para o início dos tempos, em busca da primeira referência a um ato de adoração, não o encontraremos no jardim do Éden. Surpreendentemente, não vemos nenhuma referência a atos de adoração praticados por Adão e Eva no paraíso. Nenhuma orientação divina dizendo a Adão: “Quero que você me adore assim”. Nenhum altar, nenhuma oferta, nenhuma expressão de adoração por parte do homem ao seu Criador. Isso é intrigante. Em um ambiente completamente livre do pecado, em uma atmosfera de comunhão plena entre criatura e Criador, espera-se que haja adoração. A Bíblia é clara em dizer que a própria criação reage a Deus em adoração: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” (Sl 19.1).

Sendo assim, por que não vemos a mais nobre de todas as criaturas adorando a Deus? Por que não vemos nenhum salmo, canto, ou registro de qualquer adoração atribuída ao primeiro dos seres humanos? Mais intrigante ainda é o fato de que a primeira referência a um ato de adoração vem depois da queda. É somente depois da entrada do pecado na realidade do homem que vemos a primeira oferta - a oferta de Abel. Ora, Abel, bem como Caim, devem ter aprendido a respeito da necessidade de adorar com seu pai. Por que, então, não vemos nenhuma referência a sua adoração no jardim? Não havia adoração no jardim?

A resposta é sim e não. A adoração cerimonial, icônica e visível como a conhecemos, não existia no jardim. Talvez Adão nem separasse um momento em sua ocupada agenda para levantar as mãos ao céu e começar seu “ato de adoração”. Talvez não se dirigisse a um determinado local, uma vez por mês, para sacrificar um animal para adorar a Deus. Não, essa adoração carregada de símbolos, circunstancial e calculada, provavelmente não existia. Entendo a adoração do jardim como algo espontâneo, uma adoração que se misturava com a vida. Misturava-se de tal maneira que o ato de viver e o ato de adorar se confundiam. Talvez se você perguntasse ao Adão do jardim: “Você não pára de trabalhar para adorar?”, ele iria responder: “Não. Adoro trabalhando e trabalho adorando”.

Existia uma constante percepção da presença de Deus. A vida era permeada por Deus e, embora existisse o encontro singular na viração do dia, ele não deixava de estar presente na realidade humana. Não era necessário invocar-lhe o nome, não era necessário marcar um encontro ou definir um horário. O homem permitia a interferência de Deus em sua vida, pois Deus era a própria vida. A percepção do Éden era a de que a vida não é um fim em si mesma. A vida encontra sua plenitude em Deus e em Deus somente. Após o pecado, essa consciência de Deus desapareceu. A conexão foi rompida e agora o homem não era mais tão sensível à presença de Deus. Creio que o sentimento que mais afligiu o homem caído não foi o sentimento da vulnerabilidade diante da morte, nem mesmo a vergonha ou a consciência da culpa. Obviamente, todas essas sensações se misturavam formando um turbilhão angustiante de medo e desespero. No entanto, creio que a pior sensação foi a ausência de Deus. O desligamento de sua identidade com o divino. O vazio existencial que resultava da constatação de que Deus já não era tão real quanto no jardim.

Surge então a adoração cerimonial. Para sentir Deus, o homem necessitava agora de suas percepções sensoriais. Já não era mais capaz de relacionar-se com Deus em espírito, uma vez que este estava morto. Era necessário, portanto, criar meios visíveis e palpáveis para relacionar-se com ele. Surge então o altar, o sacrifício, o ritual específico de adoração que o aproximasse de Deus. Esse desespero, por outro lado, deu origem a um conhecido mal da humanidade: a idolatria. Para aqueles que não conseguiam mais estabelecer conexão com o Deus invisível, era necessário criar deuses visíveis. A idolatria nada mais é do que uma tentativa desesperada, porém desvirtuada, de aproximar-se de Deus.

Nesse contexto, o cerimonial se faz necessário. O próprio Deus cria uma forma de adoração e de restabelecer contato com seu povo. No entanto, essas formas não constituíam a solução final. Eram sombras de algo desejável, representações reduzidas de algo maior que viria (Cl 2.17; Hb 10.1).

Continua...

Pr. Mateus Ferraz de Campos é líder do ministério Canto do Céu

Um comentário:

Ministério Aliança disse...

Amem...
Creio que uma vida de adoração é o que o Pai quer de nós hoje. Uma vez que Jesus nos reconciliou com Deus podemos desfrutar novamente da presença do Pai em nossas vidas. Mas porque murmuramos? Porque nos preocupamos com o amanhã? Porque sofremos? Porque ficamos cansados? Porque nos frustramos?

Por que não conseguimos entender o que nos foi restituído. Quando entendemos que o Jesus nos deu livre acesso, vamos parar de murmurar, não vamos mais nos preocupar, teremos alegria, correremos e não ficaremos cansamos e jamais teremos nossos sonhos frustrados. Mas precisamos votar a lugar da adoração. Ao Prazer de Deus, onde é o nosso lugar!

Amem!!!